sexta-feira, 13 de março de 2015

EQUILÍBRIO - O ENSINAMENTO DE BUDA



Um grande príncipe foi iniciado, tornou-se um sannyasin de Buda. Ele tinha vivido em grande luxo a vida toda, ele havia sido um grande tocador de sítara, seu nome era conhecido em todo o país como o de um grande músico. Mas ele ficou impressionado pela música interior de Buda – pode ser que o seu insight em música lhe tenha ajudado a entender Buda.

Quando Buda estava visitando a sua capital ele o ouviu pela primeira vez, se apaixonou à primeira vista e renunciou ao seu reino. Até mesmo Buda não queria que ele tomasse essa grande decisão tão impulsivamente. Ele lhe disse: “Espere, pense. Eu estarei aqui por quatro meses” – porque durante toda a estação das chuvas ele permanecia em um lugar. “Eu ficarei aqui, não há pressa. Pense sobre isso. Um período de quatro meses e então você pode tomar sannyas, você pode ser iniciado”.

Mas o jovem disse: “A decisão já aconteceu; não há nada mais a ser pensado. É agora ou nunca! E quem sabe sobre o amanhã? E você vem sempre dizendo, ‘viva no presente’, então, porque você está me dizendo para esperar por quatro meses? Eu posso morrer, você pode morrer, alguma coisa pode acontecer. Quem sabe sobre o futuro? Eu não quero esperar nem mesmo um único dia!”.

Sua insistência era tal que Buda teve que conceder; ele foi iniciado. Buda estava um pouco incerto sobre ele, se ele seria capaz de viver essa vida de mendigo. Buda tinha conhecido isso a partir de sua própria experiência; ele mesmo havia sido um grande príncipe uma vez. Ele sabia o que era viver em luxo, em conforto e o que era ser mendigo nas ruas. Era um fenômeno árduo, e Buda tinha levado um tempo. Ele levou seis anos para se tornar iluminado, e aos poucos ele havia se acostumado a ficar sem abrigo, às vezes sem comida, sem amigos, inimigos em toda a parte por nenhuma razão, porque ele não estava machucando ninguém. Mas as pessoas são tão estúpidas, elas vivem em tamanha mentira, que sempre que vêem um homem que sabe a verdade, elas se ferem a si mesmas – elas se sentem machucadas, insultadas

Buda sabia que a coisas toda seria demais para esse jovem. Ele sentiu pena dele, mas o iniciou. E ele ficou surpreso e todos os outros sannyasins ficaram surpresos, porque o homem simplesmente se moveu para o outro extremo. Todos os monges budistas costumavam comer somente uma vez por dia, aquele novo monge, o ex-príncipe, começou a comer somente uma vez em dois dias. Todos os monges budistas costumavam dormir debaixo de árvores; ele dormia debaixo do céu aberto. Os monges costumavam caminhar nas estradas, ele caminhava, não nas estradas, mas sempre dos lados onde havia espinhos, pedras. Ele era um belo homem; em poucos meses seu corpo ficou escuro. Ele era muito saudável; ficou doente, magro e franzino. Seus pés ficaram feridos.

Muitos sannyasins vieram a Buda e disseram: “Alguma coisa tem que ser feita. Aquele homem foi para o extremo oposto: ele está se torturando! Ele se tornou autodestrutivo”.

Buda foi a ele uma noite e lhe perguntou: “Shrona” – Shrona era o seu nome – “posso lhe fazer uma pergunta?”

Ele disse: “É claro meu Senhor. Você pode fazer qualquer pergunta. Eu sou seu discípulo. Eu estou aqui para lhe dizer tudo o que quiser saber sobre mim”.

Buda disse: “Eu ouvi dizer que quando você era príncipe, você era um grande músico e costumava tocar cítara”.

Ele disse: “Sim, mas isso está acabado. Eu me esqueci completamente disso. Mas é verdade, eu costumava tocar cítara. Esse era o meu hobby, meu único hobby. Eu costumava praticar pelo menos oito horas por dia e eu tinha ficado famoso em todo o país por isso”.

Buda disse: “Eu tenho que fazer uma pergunta. Se as cordas da sua sítara estiverem esticadas de demais, o que acontecerá?”.

Ele disse: “O que acontecerá? É simples! Você não poderá tocar – elas arrebentarão”.

Buda disse: “Uma outra pergunta: se elas estiverem frouxas demais o que acontecerá?”.

Shrona disse: “Isso também é simples. Se elas estiverem frouxas demais nenhuma música será produzida nelas porque não haverá tensão alguma”.

Buda disse: “Você é uma pessoa inteligente – eu não preciso dizer mais nada a você. Lembre-se: a vida também é um instrumento musical. Ela precisa de uma certa tensão, mas somente uma certa tensão. Menos que isso a sua vida será frouxa demais e não haverá música. Se a tensão for demais você começará a entrar em colapso, você começará a ficar louco. Lembre-se disso. Primeiro você viveu uma vida muito relaxada e você perdeu a música interna; agora você está vivendo uma vida muito rigorosa – você ainda está perdendo a música. Não existe uma maneira de se ajustar as cordas da cítara de tal forma que elas fiquem exatamente exata de tensão, para que a música possa surgir?”.

Ele disse: “Sim, existe uma maneira”.

Buda disse: “Esse é o meu ensinamento: esteja exatamente no meio, entre os dois pólos. A tensão não tem que desaparecer completamente, senão você estará morto; a tensão não tem que ser demasiada, senão você enlouquecerá”.



Texto extraído do livro “Tao: O Portal Dourado” - Osho - Editora Shanti.

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